é muito fácil quando se está num meio onde não há televisão em casa, ou quando há não é numa língua que se perceba, ou quando todas as pessoas com que estamos e nos damos não vêm televisão. A sério, é fácil. Uma pessoa tem saudades nos primeiros tempos, e apetece-nos imenso alapar o traseiro no sofá mais próximo pegar no comando fazer zapping por uma carrada de canais até encontrarmos aquela série que adoramos e nos faz rir desalmadamente (por dentro - visto que quando estou a ver televisão é muito raro rir alto, o que não significa que não esteja a achar um piadão, pelo contrário), apetecia-me televisão principalmente nos momentos em que não me apetecia conversar com ninguém ou de preguiça total. Com o tempo aprende-se a fazer qualquer coisa mais produtiva e começamos a reparar que de repente temos imeeeenso tempo para fazermos o milhar de coisas que andávamos a adiar por falta de tempo, é realmente íncrivel como o dia passa a ter 24 horas! Resumindo, admito que este tempo sem televisão foi das melhores coisinhas que já fiz, li muito mais, dediquei mais tempo a coisas que realmente interessam e me constroem como pessoa em vez de me estupidificarem (admitamos, maior parte dos programas que passam na televisão são lixo, e maior parte deles nós gostamos e vemos).
Antes de voltar a casa pensei: "Se há coisa que quero continuar a fazer quando voltar são: não ver televisão e continuar a gastar o meu tempo em coisas realmente importantes, deitar cedo e levantar-me cedo, não beber refrigerantes e comer porcarias." Aaaah, doce ilusão.
Eu precisava era de detestar a televisão, de repudiar a coisa. Talvez assim resultasse. É que quando voltamos e estamos num ambiente em que há televisão, que é falada numa língua que percebemos e estamos rodeados por gente que vê televisão como quem respirar ou que as conversas invariavelmente vão dar a um programa qualquer que passou na televisão vemo-nos completamente rodeados pelo O Mal. Parece que não há escapatória possível. É que torna-se muito díficil. Passamos pela sala e lá está o raio do aparelhometro ligado, e lá ouvimos as risadas da família e um "Maria, olha vem aqui ver isto! Tem imensa piada.", e nós educadamente, porque não queremos passar a imagem "olhem para mim, sou tão superior e não vejo tv e tal e tal", dizemos "agora não, tenho que ir desfazer a mala" ou "agora não, vou ler". Chega a uma altura que não resulta e temos mesmo que dizer que estamos a tentar deixar de ver televisão. Depois lá vêm as perguntas em catadupa, não há maneira de fugir. Lá explicamos, que achamos que perdemos muito tempo, e que achamos que a televisão tem uma influência negativa em nós e que queremos aproveitar melhor o tempo e tal. E dizer isto sem deixar a impressão que estamos a julgar os que vêm ou que nos estamos a armar em boas e tal? Pois, é muito díficil. Isto da televisão é só um exemplo, porque há mais coisas.
Lá está, se eu detestasse mesmo a televisão e repugnasse mesmo os efeitos que ela me traz, conseguia levar a eterna-dieta-de-televisão à séria. Mas eu continuo a gostar de me alapar a ver séries que não me trazem muito para lá de um grande desperdício de tempo e muitas ilusões, continuo a gostar. Logo já se está a ver o resultado da minha resolução, uma semannita e tal depois lá estou eu alapada no sofá a encher-me de séries. E nem sabem a raiva que me dá, é que fico mesmo fula comigo própria. Podia já ter acabado o livro que estou a ler, começar a estudar a língua que pus na cabeça que quero aprender, começar a fazer as malas para os próximos 10 dias em que vou estar fora de casa, arrumar e organizar a minha mala de papelada que trouxe do meu ano fora, arrumar um montão de outras coisas que precisam aqui em casa. Não fiz nada do que queria, porquê? PORQUE TENHO ESTADO A VER TELEVISÃO! Shame on me, estou a ver televisão pelo ano todo quase. Adorava detestar a televisão. Queria mesmo mesmo. Um desperdício de tempo autêntico.
Vou começar a fazer um esforço, a sério que vou. É que eu sei que é possivel e que é bom, só tenho é que pôr toda a minha vontade nisso.
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