sexta-feira, 25 de julho de 2014

la même histoire

tenho uma vontade enorme de me perder por aí. não sei, andar e andar. correr. até não saber onde estou. de dançar na rua à noite, ao som de música francesa. podia ser em paris, talvez.

não pertenço a lugar nenhum. é uma sensação estranha. estranha mas boa. não sei se algum dia vou querer pertencer a algum lugar, gosto da ideia da procura constante. há pessoas que pertencem a lugares, a outras pessoas, a hábitos. eu não pertenço a coisa nenhuma. sinto-me solta do mundo, dos outros.

há pessoas que têm pedacinhos meus. mas não lhes pertenço por inteiro, ninguém me tem por inteiro. como se eu fosse um tipo qualquer de matéria que se desintegra e se distribui. ele ganhou um bocadinho meu. hoje quis muito ter esse bocadinho que lhe dei de volta. mas não funciona assim, uma vez dado nunca mais volta para nós. por outro lado quero que ele o guarde, que olhe para ele e que tenha saudades, que se lembre do sorriso que lhe dei enquanto o via na minha varanda a fumar, sem camisola, e quando me olhou enquanto  deixava o fumo escapar-lhe por entre os lábios e me dizia "não quero que me vejas assim" e eu lhe dei o meu melhor sorriso e lhe disse "eu gosto de ti todo, até desse hábito horrivel". e depois beijei-o pela milésima vez nesse dia. naquele sorriso, naquele olhar, e em cada beijo foi um bocadinho meu. quero que ele o guarde para sempre, que se recorde dele com nostalgia, ou então que me o devolva. obliviation. no fundo é o que todos tememos, ser esquecidos. 

não pertenço a lugar nenhum. não pertenço a ninguém. só em bocadinhos. andam bocadinhos meus distribuídos por aí, pelo mundo. por isso é que não pertenço a lugar nenhum e a ninguém.

provavelmente nada disto faz sentido, não é suposto fazer. hoje vou adormecer na varanda, enrolada numa manta, enquanto ouço "la même histoire" em repeat. vou ver o sol nascer.acabei o último cigarro.

faz-me bem estar assim sozinha às vezes. sabe-me tão bem. 




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